Capítulo IV - Adeus, Pássaro!
É, o pássaro foi embora mesmo e acredito que não voltará.
Não tive coragem de fechar a janela da minha varanda. Fui covarde, reconheço,
ou talvez eu ainda tivesse esperança de que ele voltasse a ser como antes, uma
ave adorável.
Lembro do primeiro dia em que vi o pássaro. Adentrou minha
varanda bem tímido e desconfiado. Fiquei encantada com aquela visita ilustre e
decidi cativá-lo. Dei atenção, carinho, alpiste e água. Nunca o coloquei em uma
gaiola, seria uma postura altamente egoísta da minha parte.
Ele partia, é fato, mas me visitava com frequência. Adorava
quando ele me acordava com seu belíssimo canto. Às vezes ele desafinava e eu
caia na gargalhada. Ele levava tudo com bom humor e sorríamos juntos. Ficamos
bastante próximos e construímos uma amizade bonita e por que não sincera?
Estava tudo muito lindo para ser verdade e coisas
desagradáveis começaram a acontecer. O pássaro começou a ficar insubordinado e
suas cantorias tornaram-se insuportáveis. Comia e sujava a minha varanda. Isso
quando me visitava! Suas visitas tornaram-se cada vez menos frequentes. Achei
tudo isso uma falta de consideração e de educação tamanha. Aí eu explodi!
Depois disso, ele parou de me visitar. Não vou negar, fiquei aliviada por ter
me livrado da tormenta, mas admito que sinto saudades do meu amigo pássaro. Sei
que ele não vai voltar e, sinceramente, não quero que ele volte. Não fechei a
porta da varanda, pois ela estará sempre à disposição de outros pássaros e
demais visitantes. Eu fechei a porta da minha vida para aquele pássaro. É
preciso saber dizer adeus.